Concurso - "Ser escritor é cool"
Desafio nº 2 - 3º ciclo e secundário
"Lemos, escrevemos e aprendemos cada vez mais no digital.
És a favor ou contra?"
Texto finalista
3º ciclo
“Lemos,
escrevemos e
aprendemos cada vez mais no digital.”
A
evolução tecnológica tem vindo a revolucionar a forma como comunicamos e como
nos relacionamos no dia a dia. A internet,
as redes sociais e as aplicações digitais, que utilizamos no nosso simples
telemóvel, trouxe novos desafios à Humanidade. A digitalização de toda a
informação, incluindo os livros, levanta-nos uma série de questões. Existem
vantagens e desvantagens deste processo de digitalização.
Na minha opinião,
acredito ser possível aprender com alguns recursos digitais, que são muito mais
apelativos do que o simples livro em suporte de papel. A interatividade entre o
utilizador e o recurso digital pode ser muito facilitadora de aprendizagens. A
utilização de simuladores, vídeos interativos que complementam o livro,
torna-se muito interessante, nomeadamente para esta jovem geração, “faminta de
tecnologia”. Este novo tipo de aprendizagem tem uma estrutura mais simplificada
e apelativa, comparando com outros métodos mais tradicionais, como os manuais.
No entanto,
também existem desvantagens, na utilização do digital nas aprendizagens. Na internet, por exemplo, existe muito
material pouco fidedigno, que exige um grande poder de seleção, por parte do
utilizador, o que nem sempre sucede. Por outro lado, os jovens passam
demasiadas horas em dispositivos eletrónicos, o que nem sempre é positivo para
a sua saúde física e mental. A escrita, a leitura, e a aprendizagem, em suporte
digital, tornam-se muito mais cansativas, devido às radiações emitidas pelos computadores,
tablets e telemóveis, originando problemas, por exemplo, ao nível da visão.
A leitura de um
livro em suporte de papel, o simples toque, o folhear das suas páginas, o
domínio que é ter o livro nas nossas mãos, o sentimento de pertença, é algo que
o digital não nos permite sentir. No entanto, a possibilidade interativa, que a
tecnologia nos trouxe, permitindo-nos compreender melhor os conteúdos, também é
muito positiva.
Concluindo, tenho opinião favorável perante estas novas
formas de aprender, muito dinâmicas, interativas e apelativas. No entanto, é necessário
a escrita e a leitura em papel, de forma a que não se percam capacidades de
leitura e de escrita. O livro físico continua a ser único, a visita a uma
qualquer feira do livro, o comunicar com o escritor, o sentir a emoção de tocar
o livro, é algo que nenhuma ferramenta digital nos pode trazer/proporcionar.
Diogo Rodrigues,9ºA
Texto finalista
Secundário
Diário de um agricultor
A invasão
21
de março de 2002
O
Joaquim ainda continua com as suas feridas que a pouco e pouco se saram. O
estranho objeto era algo preto com medida de um palmo e cheio de teclas. Disse
que se chamava telemóvel… ou algo assim. A luta deve ter-lhe feito mal e batido
com a cabeça.
Através da televisão que se encontra ligada dentro do
café, um novo anúncio invade aquele espaço com algo inovador: outro telemóvel.
O homem que o está a dizer enumera várias características que, segundo ele, são
formidáveis.
Não sei se confio muito nele nem naquilo que ele está a
dizer… Tem ar de excêntrico e rico, está sempre a sorrir… E o seu suposto
maravilhoso produto nem é igual ao do Joaquim.
Despeço-me da D. Márcia e sigo para o meu trabalho.
28 de março de 2002
Em
muito pouco tempo parece que a minha aldeia, que antes era calma e acolhedora,
perdeu o seu brilho e tornou-se em alguma coisa que nem sei bem o que é.
No espaço de pouco tempo parece que toda a gente ficou
maluca a querer comprar o tal do “telemóvel” e a dizer que isso torna a vida
melhor. Até os meus próprios filhos quiseram comprar um. Embora ainda vivam
comigo, já são homens adultos e já podem pagar pelas suas coisas. Deviam era casar
e de sair de casa.
Os barulhos dos telemóveis a tocar parecem que me perseguem
como a vaga de térmitas que caiu sobre as minhas terras. Ficou quase tudo
devastado e ainda não sei como vou recuperar o que perdi.
Com os ataques dos animais e com a vaga, as minhas terras
estão a tornar-se em solo infértil matando em ritmo lento qualquer planta que
se ouse lá instalar e crescer. Não sei como vou viver assim…
2 de abril de 2002
Depois
de vários dias a insistirem, deixei a minha mulher e os meus filhos irem
comprar os tais telemóveis. Enquanto eles iam, eu fiquei a trabalhar para conseguir
tirar um pouco do que restava do solo estragado e tirar algum sustento.
Andamos reduzidos a pó e grãos, mas eles querem-nos como
se a vida deles dependesse disso… Não entendo o porquê de tanto entusiasmo. Se
andarem agarrados aos telemóveis, não haverá sustento que lhes valha…
O meu filho mais velho, João, diz que já arranjou uma
namorada e que para breve estará para casar. Afirma que quer fazer uma surpresa
e que enviará a data combinada através das maquinetas invasoras porque estará
muito ocupado nos preparativos do evento.
A D. Márcia também diz que irá instalar um compu-não sei
quê… Diz que viu novamente o tal homem excêntrico e rico na televisão que lhe
falou daquilo e decidiu comprar um para melhorar o café.
Pessoalmente
acho uma ideia absurda! O café está ótimo como está! Não necessitamos de
engenhocas e mexer em algo que já por si só é ótimo.
7 de abril de 2002
As
plantas continuam a não conseguir germinar nem a produzir nada. Já tentei todas
as técnicas de cultivo que conheço, mas infelizmente nada parece surtir
qualquer tipo de efeito.
O meu outro filho Carlos tem-me tentado ajudar, embora o
seu empenho no trabalho também tenha decaído. Ultimamente, tem estado sempre
hipnotizado com aquela engenhoca que a D. Márcia colocou no café. Tanto ele
como muitas outras pessoas que agora passam os dias lá dentro a olhar para
aquilo com admiração.
Do meu filho João não tenho recebido muitas notícias.
Acredito eu que seja devido ao casamento e do trabalho que a sua organização
exige.
Agora vou tentar fazer florescer mais alguns caules ou raízes
perdidos para que possa conseguir continuar a sobreviver.
21 de abril de 2002
Passou
algum tempo, eu sei, mas finalmente vi sustento a crescer através de caules e
folhas revelando a fertilidade recuperada dos solos danificados. Os dias foram
resumidos na rotina de casa-terrenos, terrenos-casa.
Embora esteja feliz por finalmente estar a recuperar
algum que me possa dar de comer, a febre desta tecnologia inovadora não saiu da
mente de ninguém. O meu filho Carlos disse-me que já tinha encontrado uma
técnica nova no tal computador, que acho eu que é assim que tal objeto estranho
se chama, e que nos iria ajudar nos prejuízos.
Não confio muito naquela maquineta e prefiro optar por
métodos mais fiáveis e que eu já conheço.
Focando-me no meu outro filho, João parece que se tornou
numa sombra perdida de que nunca mais ouvi dizer alguma coisa. Já faz duas
semanas desde a última vez que falámos e o sentimento de saudade já me começa a
invadir.
Sou chamado pela minha mulher. Pergunto-lhe o que quer e
ela responde-me que temos que ir ao casamento de João. Questiono-me como sabe
ela tal informação e ela explica-me que recebeu algo chamado de “mensagem”
através do telemóvel a explicar aquilo.
A minha vontade de ir é quase nula e o meu sentido de
desconfiança toca quase como uma sirene para me avisar. Como já afirmei, não
acredito muito naquelas máquinas, mas decido dar uma hipótese.
Volto da cerimónia, já ao cair da noite, e vejo que
afinal estas novas “engenhocas” podem revelar-se bastante úteis. Ajudou o João
na divulgação do grande acontecimento aos seus convidados e pode ser que me
consiga também ajudar a mim na recuperação do meu solo de forma a que este
possa voltar a sorrir, auxiliando também assim o meu estimado sustento.